Desiderata

Autor: Max Ehrmann

“Siga placidamente por entre o ruído e a pressa, e lembre-se da paz que pode haver no silêncio. Esteja em boas relações com todas as pessoas, se possível, mas sem abdicar de sua personalidade.

Fale a sua verdade clara e serenamente; e ouça os demais, mesmo os tolos e ignorantes que também eles têm a sua história.

Evite as pessoas agressivas e gritantes, que são um peso para o espírito.

Se você se comparar com os outros, você se tornará presunçoso ou deprimido, pois sempre existirão pessoas melhores e piores do que você.

Vibre com as suas realizações e também com os seus planos. Tenha interesse na sua profissão, não importa quão humilde. Ela é um patrimônio concreto em meio as mudanças de fortuna que o tempo traz.

Seja cauteloso em seus negócios, pois o mundo está cheio de malícias. Mas que isto não o cegue para a virtude que existe. Muitos lutam por ideais elevados e por toda a parte a vida está cheia de heroísmo.

Seja você mesmo. Principalmente, não seja fingido em matéria de afeição. Nem seja cínico em relação ao amor, pois mesmo em face de toda aridez e todo desencanto, ele é eterno como a vida.

Acumule com vontade o passar dos anos, despindo-se com serenidade das coisas da juventude. Acumule fortaleza de espírito para defender-se das infelicidades súbitas. Mas não se desgaste com frutos da imaginação.

Muitos temores nascem do cansaço e da solidão. Além de uma disciplina integral, seja gentil com você mesmo.

Você é um filho do universo, tanto como as árvores e as estrelas. É um direito seu estar aqui. E, pareça-lhe ou não evidente, o universo está, sem nenhuma dúvida, evoluindo conforme deveria.

Portanto, esteja em paz com Deus. Qualquer que seja a concepção que você tenha dele e quaisquer que sejam os seus trabalhos e aspirações.

Mantenha-se em paz com sua alma, em meio ao tumulto da vida.

Com toda a falsidade, tédio e sonhos despedaçados, ainda assim o mundo é belo.

Seja cuidadoso e procure ser feliz!”

http://pt.wikipedia.org/wiki/Max_Ehrmann#Em_portugu.C3.AAs

Você é hands on?

Autor: Max Gehringer

“Vi um anúncio de emprego. A vaga era de gestor de atendimento interno, nome que agora se dá à seção de serviços gerais. E a empresa exigia que os interessados possuíssem – sem contar a formação superior – liderança, criatividade, energia, ambição, conhecimentos de informática, fluência em inglês e não bastasse tudo isso, ainda fossem hands on.

Para o felizardo que conseguisse convencer o entrevistador de que possuía essa variada gama de habilidades, o salário era um assombro: 800 reais. Ou seja, um pitico. Não que esse fosse algum exemplo fora da realidade. Pelo contrário, é quase o paradigma dos anúncios de emprego. A abundância de candidatos permite que as empresas levantem cada vez mais a altura da barra que o postulante terá de saltar para ser admitido. E muitos, de fato, saltam. E se empolgam. E aí vêm as agruras da super-qualificação, que é uma espécie do lado avesso do efeito pitico…

Vamos supor que, após uma duríssima competição com outros candidatos tão bem preparados quanto ela, a Fabiana conseguisse ser admitida como gestora de atendimento interno. E um de seus primeiros clientes fosse o seu Borges, Gerente da Contabilidade.

– Fabiana, eu quero três cópias deste relatório.

– In a hurry!

– Saúde.

– Não, isso quer dizer “bem rapidinho”. É que eu tenho fluência em inglês. Aliás, desculpe perguntar, mas por que a empresa exige fluência em inglês se aqui só se fala português?

– E eu sei lá? Dá para você tirar logo as cópias?

– O senhor não prefere que eu digitalize o relatório? Porque eu tenho profundos conhecimentos de informática.

– Não, não. Cópias normais mesmo.

– Certo. Mas eu não poderia deixar de mencionar minha criatividade. Eu já comecei a desenvolver um projeto pessoal visando eliminar 30% das cópias que tiramos.

– Fabiana, desse jeito não vai dar!

– E eu não sei? Preciso urgentemente de uma auxiliar.

– Como assim?

– É que eu sou líder, e não tenho ninguém para liderar. E considero isso um desperdício do meu potencial energético.

– Olha, neste momento, eu só preciso das três có…

– Com certeza. Mas antes vamos discutir meu futuro…

– Futuro? Que futuro?

– É que eu sou ambiciosa. Já faz dois dias que eu estou aqui e ainda não aconteceu nada.

– Fabiana, eu estou aqui há 18 anos e também não me aconteceu nada!

– Sei. Mas o senhor é hands on?

– Hã?

– Hands on. Mão na massa.

– Claro que sou!

– Então o senhor mesmo tira as cópias. E agora com licença que eu vou sair por aí explorando minhas potencialidades. Foi o que me prometeram quando eu fui contratada.

Então, o mercado de trabalho está ficando dividido em duas facções:

1 – Uma, cada vez maior, é a dos que não conseguem boas vagas porque não têm as qualificações requeridas.

2 – E o outro grupo, pequeno, mas crescente, é o dos que são admitidos porque possuem todas as competências exigidas nos anúncios, mas não poderão usar nem metade delas, porque, no fundo, a função não precisava delas.

Alguém ponderará – com justa razão – que a empresa está de olho no longo prazo: sendo portador de tantos talentos, o funcionário poderá ir sendo preparado para assumir responsabilidades cada vez maiores. Em uma empresa em que trabalhei, nós caímos nessa armadilha. Admitimos um montão de gente superqualificada. E as conversas ficaram de tão alto nível que um visitante desavisado confundiria nossa salinha do café com a Fundação Alfred Nobel.

Pessoas superqualificadas não resolvem simples problemas!

Um dia um grupo de marketing e finanças foi visitar uma de nossas fábricas e no meio da estrada, a van da empresa pifou. Como isso foi antes do advento do milagre do celular, o jeito era confiar no especialista, o Cleto, motorista da van. E aí todos descobriram que o Cleto falava inglês, tinha informática e energia e criatividade e estava fazendo pós-graduação. Só que não sabia nem abrir o capô. Duas horas depois, quando o pessoal ainda estava tentando destrinchar o manual do proprietário, passou um sujeito de bicicleta. Para horror de todos ele falava “nóis vai” e coisas do gênero.

Mas, em 2 minutos, para espanto geral, botou a van para funcionar. Deram-lhe uns trocados, e ele foi embora feliz da vida. Aquele ciclista anônimo era o protótipo do funcionário para quem as Empresas modernas torcem o nariz: o que é capaz de resolver, mas não de Impressionar.”

Uma pedra atrás do portão: minha última ida a São Paulo

Riccio, Nair, Asa, Nelma e tantos outros paulistanos que sempre nos receberam tão bem na FEA-USP: não levem a mal, o que relato é uma incompatibilidade minha com a cidade…

Preocupado com a chuva de sexta-feira, saí da USP às 15:30 em um táxi rumo ao Aeroporto de Guarulhos para pegar meu voo de 19:50. Cheguei em casa agora, 23:45. Relato a seguir as aventuras deste trajeto.

O motorista do táxi estava animado, me disse que com 50, 60 minutos chegaríamos se tudo estivesse tranquilo. Parece que ele não era de lá: São Paulo tranquila numa sexta a tarde com chuva????

Até o Terminal do Tietê seriam 25 minutos – gastamos 2 horas… E mais 2 para o Aeroporto – cheguei às 19:40, já finalizando o embarque… Uma viagem a mais, não programada a princípio, tomando mais tempo que o voo até BH e o mesmo valor: R$ 160,00…

Mas no caminho aprendi muita coisa: vi que o paulistano carrega um urinol (na verdade uma garrafa plástica…). No meio da chuva parou um carro ao lado do táxi, abriu o vidro e despejou o conteúdo (amarelo) de uma garrafa de 600ml de coca-cola – achei complicado, mas ou boa parte do conteúdo ficou dentro do carro na hora de encher a garrafa, ou o cara deve fazer muita raiva na namorada… Fato é que ver aquilo fez meu diurético fazer mais efeito – só que o táxi não tem a tal garrafa para o passageiro (a R$ 160,00 deveria ter direito, não?). O diurético é associado a outro comprimido para baixar a pressão – e por incrível que pareça eu ainda estava zen.

Descobri também que deve existir um projeto de lei para mudar o nome daquela avenida – de Ayrton Senna para Rubens Barrichello. Faz mais sentido. Se não tem o tal projeto, seria uma boa proposta…

Durante a viagem até o aeroporto, o tempo inteiro uma rádio passava informações sobre o trânsito. “Agora 560 Km de congestionamento”. Ouvi diversos valores entre 430 e 620… E pessoas que ligavam pedindo informações sobre qual a melhor opção de ir de A para B. Às 16:30 uma mãe disse que precisava estar na escola da filhinha até as 18hs: “impossível!” retrucou o repórter.

Quase chegando ao Aeroporto – leia-se: faltando 5Km = 1 hora – nossa pista central ficou liberada e a lateral toda parada. Foi um prazer incomensurável olhar para a fila ao lado e passar direto: aquilo foi um viagra tripla potência. Antes do clímax, entretanto, nossa fila parou e a outra começou a andar, e depois correr… Nunca pensei que viagra tripla potência tivesse o efeito cortado tão rápido…

Na viagem para o aeroporto, acabou a bateria do celular (a dependência é tão grande que parece que um pedaço do corpo foi arrancado) e eu não tinha avisado ninguém do horário do voo. Cheguei ao aeroporto em cima da hora, e consegui uma tentativa de ligação a cobrar, mas não tinha ninguém em casa. Peguei o voo tranquilo, porque sabia que não ia ter trânsito até BH.

Chegando a BH, o ônibus sairia em 1 minuto, e o próximo só dali a 40 minutos. Não deu tempo de ligar de novo (o celular sem bateria…). E eu ainda zen…

No caminho fui pensando que voltar a BH era bom, sem aquele trânsito doentio. Desci do ônibus e procurei um telefone público, sem sucesso. Peguei o táxi para a casa dos meus pais que fica a 10 minutos dali – onde pegaria meu carro para finalmente ir para casa. Mas o dia não tinha acabado… O táxi levou 30 minutos para chegar lá. No caminho pedi o telefone do taxista emprestado, mas a bateria acabou quando eu disquei o segundo número. E eu ainda zen…

Ao tocar o interfone, minha mãe havia desligado o mesmo. Tive de andar uns 50 metros – com mala e cuia – até um telefone público, mas não consegui discar. Como sempre uso o celular – aquele pedaço do corpo que estava faltando naquele momento – nem me lembrava de como fazer ligação a cobrar, e não tinha a mínima chance de enxergar as instruções (a lanterna do celular estava sem bateria). Naquele momento uma EcoSport parou do meu lado – havia acabado a gasolina, e o mostrador do carro não estava funcionando. Pensei na hora: isso pega!

Quando finalmente consegui falar com minha mãe, ela abriu o portão. Até ali eu estava zen, e impressionado como tinha conseguido passar por aquilo tudo sem qualquer risco de raiva ou pressão alta. Pensei em ficar um tempo ali, comer alguma coisa e sair mais tarde para que o trânsito melhorasse. Mas na hora de abrir o portão havia uma pedra atrás dele. Uma brita que fica no estacionamento e algum carro deve ter jogado lá. O portão não abria… Toquei o interfone para pedir que alguém fosse lá, mas estava desligado.

Convenhamos: nem Buda… 23:20 (não sei ao certo porque o celular estava desligado) chutei o portão e fui para o carro. Minha mãe perguntou: onde o senhor estava que não podia nem ligar? A pressão pulou – isso mesmo, ela não subiu, pulou direto – para 20 x 19 ou algo parecido…

Uma coisa eu aprendi: São Paulo não é para mim. Se precisar ir para lá em caso de vida ou morte, acho que ainda vou pensar…