Para o entendimento das sociedades simples, o sistema de parentesco é um tópico bastante estudado, pois oferece “aspectos mais regulares e recorrentes, permitindo a construção, o teste de generalizações e o entendimento da estrutura social das sociedades simples” (ALVES e SANTOS, p. 166).
O sistema de parentesco baseia-se no fato de um indivíduo pertencer, simultaneamente, a duas famílias: à que nasceu (de orientação) e à que constituiu (de procriação).
Conceitualmente, o sistema de parentesco é “um sistema estrutural de interações familiares onde os indivíduos, através das relações de afinidade, de consanguinidade e de adoção, estabelecem inúmeras séries ramificadas de elos de união entre os grupos sociais, criando assim os laços de parentesco.” (p. 166)
Os três tipos de relações podem ser apresentados da seguinte forma:
- Afinidade (marital ou legal): criado pelo casamento, quando o homem contrai laços de afinidade com a esposa e seus familiares (pais, irmãos, irmãs);
- Consanguinidade (biológico): relação entre pais e filhos;
- Adoção (fictício ou pseudoparente): aceito por muitas sociedades, inclui crianças adotadas, escravos, compadrio e parentesco ritual (irmão de sangue).
A compreensão dos laços de parentesco é facilitada através da utilização do Gráfico de Laços de Parentesco. Este instrumento permite a visualização de três tipos de parentes:
- Primários: pertencentes à mesma família nuclear (de orientação ou de procriação), são ligados por laços de sangue ou parentesco biológico (pai e filho) ou afinidade (marido e mulher);
- Secundários: refere-se ao pai do pai, pai da mãe, tios;
- Terciários: bisavós, esposa do tio e outros parentes mais remotos.
A simbologia adotada inclui um triângulo para o homem e um círculo para a mulher. Estes símbolos não possuem nenhum preenchimento. Entretanto, o gráfico sempre analisa os laços de parentesco a partir de um EGO (masculino ou feminino), e este símbolo, para melhor visualização, é diferenciado com o seguinte preenchimento:
Os dois principais tipos de relação são representados da seguinte forma:
O Gráfico também apresenta um esquema de abreviaturas, e para a confecção deste trabalho utilizamos uma representação correspondente própria que visa facilitar a compreensão dos gráficos apresentados:
A seguir, apresentamos a mesma família representada em gráficos que tomam por base egos diferentes:
A partir do EGO (um dos filhos), visualizamos a nomenclatura adotada para cada outro integrante da família.
A mesma família, representada a partir de outro EGO, qualifica os mesmos parentes de forma diferente.
Murdock, baseado em critérios de fusão e particularização da prole, dos primos cruzados e paralelos, desenvolveu uma tipologia para o sistema de parentesco na relação de primos. Esse sistema leva em conta o sexo: a irmã do pai é tia cruzada, enquanto o irmão do pai é tio paralelo; o irmão da mãe é tio cruzado e a irmã da mãe é tia paralela. Os primos, por sua vez, herdam essa qualificação: filhos de tios paralelos são primos paralelos, e filhos de tios cruzados são primos cruzados. A classificação proposta por Murdock é importante pois a forma de tratamento dos primos vai influenciar nas relações sociais da família.
O autor propôs seis tipos de parentesco: havaiano, esquimó, iroquês, sudanês, Crow (índios corvos) e omaha. Entre eles detalhamos:
- Havaiano: não há diferença entre irmãos e primos (irmãos por afinidade).
- Esquimó: todos os primos são iguais entre si, porém diferentes do EGO
- Iroquês: irmãos e primos paralelos são igualados com o mesmo termo, mas os primos cruzados pertencem a categorias diferentes.
** Parte do trabalho “Antropologia” apresentado em 2009 com os colegas Eliana Maria C.Del Bianco Maia, Karla Matos de Souza, Luana da Silva Rodrigues e Luciara Morais Alves à disciplina Antropologia Jurídica. Professor Sílvio Horta.