Uma pedra atrás do portão: minha última ida a São Paulo

Riccio, Nair, Asa, Nelma e tantos outros paulistanos que sempre nos receberam tão bem na FEA-USP: não levem a mal, o que relato é uma incompatibilidade minha com a cidade…

Preocupado com a chuva de sexta-feira, saí da USP às 15:30 em um táxi rumo ao Aeroporto de Guarulhos para pegar meu voo de 19:50. Cheguei em casa agora, 23:45. Relato a seguir as aventuras deste trajeto.

O motorista do táxi estava animado, me disse que com 50, 60 minutos chegaríamos se tudo estivesse tranquilo. Parece que ele não era de lá: São Paulo tranquila numa sexta a tarde com chuva????

Até o Terminal do Tietê seriam 25 minutos – gastamos 2 horas… E mais 2 para o Aeroporto – cheguei às 19:40, já finalizando o embarque… Uma viagem a mais, não programada a princípio, tomando mais tempo que o voo até BH e o mesmo valor: R$ 160,00…

Mas no caminho aprendi muita coisa: vi que o paulistano carrega um urinol (na verdade uma garrafa plástica…). No meio da chuva parou um carro ao lado do táxi, abriu o vidro e despejou o conteúdo (amarelo) de uma garrafa de 600ml de coca-cola – achei complicado, mas ou boa parte do conteúdo ficou dentro do carro na hora de encher a garrafa, ou o cara deve fazer muita raiva na namorada… Fato é que ver aquilo fez meu diurético fazer mais efeito – só que o táxi não tem a tal garrafa para o passageiro (a R$ 160,00 deveria ter direito, não?). O diurético é associado a outro comprimido para baixar a pressão – e por incrível que pareça eu ainda estava zen.

Descobri também que deve existir um projeto de lei para mudar o nome daquela avenida – de Ayrton Senna para Rubens Barrichello. Faz mais sentido. Se não tem o tal projeto, seria uma boa proposta…

Durante a viagem até o aeroporto, o tempo inteiro uma rádio passava informações sobre o trânsito. “Agora 560 Km de congestionamento”. Ouvi diversos valores entre 430 e 620… E pessoas que ligavam pedindo informações sobre qual a melhor opção de ir de A para B. Às 16:30 uma mãe disse que precisava estar na escola da filhinha até as 18hs: “impossível!” retrucou o repórter.

Quase chegando ao Aeroporto – leia-se: faltando 5Km = 1 hora – nossa pista central ficou liberada e a lateral toda parada. Foi um prazer incomensurável olhar para a fila ao lado e passar direto: aquilo foi um viagra tripla potência. Antes do clímax, entretanto, nossa fila parou e a outra começou a andar, e depois correr… Nunca pensei que viagra tripla potência tivesse o efeito cortado tão rápido…

Na viagem para o aeroporto, acabou a bateria do celular (a dependência é tão grande que parece que um pedaço do corpo foi arrancado) e eu não tinha avisado ninguém do horário do voo. Cheguei ao aeroporto em cima da hora, e consegui uma tentativa de ligação a cobrar, mas não tinha ninguém em casa. Peguei o voo tranquilo, porque sabia que não ia ter trânsito até BH.

Chegando a BH, o ônibus sairia em 1 minuto, e o próximo só dali a 40 minutos. Não deu tempo de ligar de novo (o celular sem bateria…). E eu ainda zen…

No caminho fui pensando que voltar a BH era bom, sem aquele trânsito doentio. Desci do ônibus e procurei um telefone público, sem sucesso. Peguei o táxi para a casa dos meus pais que fica a 10 minutos dali – onde pegaria meu carro para finalmente ir para casa. Mas o dia não tinha acabado… O táxi levou 30 minutos para chegar lá. No caminho pedi o telefone do taxista emprestado, mas a bateria acabou quando eu disquei o segundo número. E eu ainda zen…

Ao tocar o interfone, minha mãe havia desligado o mesmo. Tive de andar uns 50 metros – com mala e cuia – até um telefone público, mas não consegui discar. Como sempre uso o celular – aquele pedaço do corpo que estava faltando naquele momento – nem me lembrava de como fazer ligação a cobrar, e não tinha a mínima chance de enxergar as instruções (a lanterna do celular estava sem bateria). Naquele momento uma EcoSport parou do meu lado – havia acabado a gasolina, e o mostrador do carro não estava funcionando. Pensei na hora: isso pega!

Quando finalmente consegui falar com minha mãe, ela abriu o portão. Até ali eu estava zen, e impressionado como tinha conseguido passar por aquilo tudo sem qualquer risco de raiva ou pressão alta. Pensei em ficar um tempo ali, comer alguma coisa e sair mais tarde para que o trânsito melhorasse. Mas na hora de abrir o portão havia uma pedra atrás dele. Uma brita que fica no estacionamento e algum carro deve ter jogado lá. O portão não abria… Toquei o interfone para pedir que alguém fosse lá, mas estava desligado.

Convenhamos: nem Buda… 23:20 (não sei ao certo porque o celular estava desligado) chutei o portão e fui para o carro. Minha mãe perguntou: onde o senhor estava que não podia nem ligar? A pressão pulou – isso mesmo, ela não subiu, pulou direto – para 20 x 19 ou algo parecido…

Uma coisa eu aprendi: São Paulo não é para mim. Se precisar ir para lá em caso de vida ou morte, acho que ainda vou pensar…